OPINIÃO DO ASSOCIADO

Publicado em:  22/02/2023


Autora: Dra. Sarah Ruckl, Psiquiatra associada da cidade de Curitiba e Diretora Secretária Adjunta da APPSIQ.


CRM 22950 PR - RQE 14431.


Você conhece a síndrome da segunda vítima?


Corriqueiramente, profissionais da saúde lidam com situações complexas e tentam atingir expectativas, muitas vezes irreais de seus pacientes. Entretanto, como nem todas as situações são previsíveis e acontecem em ambiente completamente controlado, alguns desfechos dentro da prática clínica podem ser desfavoráveis.

A síndrome da segunda vítima foi descrita inicialmente por Albert Wu, professor de gestão pública da universidade John Hopkins. Esta acomete profissionais de saúde que passaram por alguma situação no cuidado com o seu paciente, que levou a desfechos não favoráveis, como por exemplo, um erro assistencial ou um efeito adverso imprevisto. O paciente, neste caso, é a primeira vítima,

Cerca de 50% de todos os profissionais da saúde serão acometidos pelo menos uma vez ao longo de sua carreira pela síndrome da segunda vítima.

A reação de cada profissional de saúde está relacionada a suas características de personalidade, estilos de enfrentamento, gravidade do incidente e suas consequências da vida pessoal e profissional. Os principais sintomas vão desde dificuldades para dormir, sentimentos de vergonha e culpa, ansiedade, tristeza até depressão, transtorno de estresse pós-traumático e ideação suicida.

Infelizmente, devido ao medo e vergonha, muitos profissionais da saúde acabam não procurando ajuda nem suporte. Nesses casos, a ajuda psicológica e psiquiátrica é essencial, além do apoio institucional.

Alguns pesquisadores têm criticado o uso do termo segunda  vítima, pois associam o mesmo a desresponsabilização daquele  que comete o erro, além de demonstrar falta de sensibilidade com o paciente. Portanto, esse termo deve ser utilizado com cuidado.

Todavia, o sofrimento emocional do profissional de saúde existe e deve ser levado em consideração.


De acordo com estudos recentes, a síndrome da segunda vítima apresenta seis estágios:


1) Caos e resposta ao acidente,na qual o profissional se pergunta: " como e por que isso aconteceu?"

2) Reflexões intrusivas: "como eu não percebi isso e será que eu poderia ter feito algo

diferente?"

3) Tentativa de restabelecer a integridade pessoal: " O que os outros vão pensar? Serei

confiável novamente?"

4) Suportando a inquisição, medo: " Eu serei demitido".

5) Buscando ajuda emocional - contato com os colegas em busca de suporte emocional.

6) Superação, que pode ter três desfechos:

a) desistir,

b) sobreviver,

c) prosperar - "eu tive

aprendizados com essa situação"


Referências bibliográficas:

Clarkson, M. D., Haskell, H., Hemmelgarn, C., & Skolnik, P. J. (2019). Abandon the term

“second victim”. BMJ, 364.

Ozeke, O., Ozeke, V., Coskun, O., & Budakoglu, I. I. (2019). Second victims in health care:

current perspectives. Advances in Medical Education and Practice, 593-603.




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